terça-feira, 16 de novembro de 2010

Sexto Capítulo


Passo a porta. Sinto o ar fresco...gelado. A respiração torna-se vaporosa, turva. Aconchego-me dentro do casaco. Levo um livro na mão, a máquina ao pescoço. Mais nada. É tudo o que preciso. Começo a andar. Primeiro o chão é duro e frio, para se tornar pedregoso e finalmente sinto a terra quente e arenosa. Não está molhada mas húmida, o meu andar não é silencioso. Passo o rafeiro e numa curva encontro uma bicicleta enferrujada. Os pinheiros são pequenos neste lado da estrada. Finalmente chego à entrada do meu destino. É aqui que tudo começa. Deixo para trás o asfalto, as pessoas, os carros. Já não sinto o vento tão intenso e o frio dá lugar a um cheiro reconfortante de pinheiro. Continuo a andar. De vez em quando paro para observar uma pedra ou uma planta que se destaca. Vou capturando esses momentos de curiosidade e harmonia através da minha companheira. Oiço cães, o tilintar de ovelhas. Chego à pedra. Vou até a beira onde posso ver melhor a paisagem. Sento-me. Deito-me. Está quente. Sinto o sol na minha cara, ainda que fraco, reconforta. Sinto o musgo na minha mão. Sinto a pedra áspera na outra. Sento-me. Pego no caderno, no lápis que pus no bolso e desenho uns rabiscos. Escrevo também o que estou a sentir. A letra fica estranha, o lápis precisa de ser afiado. Pego numa folha seca, coloco-a dentro do caderno. Fecho-o. Respiro fundo e olho em volta. A paisagem vai mudando ao longo do tempo. A natureza é tão mutável. Os fogos devastam algumas zonas, que ficam negras durante o verão. Mas ela restitui-se. Mas não da mesma forma. Levanto-me. Agora vou por um caminho diferente. As pedras são diferentes. As folhas também. Pego numa folha de pinheiro e cheiro. Lembro-me da minha avó, da minha infância. Só gosto do cheiro quando estou aqui. Não gosto quando vem num pãozinho ou num bocado de cartão. A barriga começa a dar horas. Aqui tem se sempre fome. Entro em casa. Vou para a lareira. Aqueço as mãos. Descalço-me. Aqueço os pés. Sinto o calor na cara. Ainda sinto o cheiro a pinheiro.

Sem comentários:

Enviar um comentário