sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Segundo Capítulo


fotografia retirada do
The New York Times,
on-line

Ontem à noite fui com o meu namorado e um casal amigo ao Pavilhão Chinês, um espaço acolhedor e repleto de história, com cartazes que retratam principalmente a instauração da Primeira República. Este ambiente remeteu-me ao livro que estou a ler agora - "Rio das Flores" de Miguel Sousa Tavares - que trata precisamente esta época da história portuguesa.

Com toda esta envolvente pus uma questão na mesa: as tertúlias de antigamente, espaços de "reunião familiar; assembleia literária, reunião habitual de artistas, literatos, etc.; agrupamento de amigos" (in Dicionário da Língua Portuguesa), onde um conjunto de pessoas instruídas com pensamentos diversos e discussões culturais debatiam temas de importância social, politica, económica e artística; tornaram-se hoje um ajuntamento de pessoas fúteis e mesquinhas, numa chamada "tertúlia cor-de-rosa", onde, sabe-se lá porquê, decidem que estão no direito de falar da vida dos outros "so called" famosos, a partir de revistas com o mesmo tipo de carácter especulativo. Criam-se discussões fervorosas à volta de temas como o vestido que o individuo x levou à festa tal, e a relação entre indivíduo y e z.

Não quero censurar, acredito que haja muitas pessoas que vêm neste tipo de programas um refugio e um entretenimento, mas associar tertúlia, uma palavra tão importante na nossa história e no seu desenvolvimento, a este tipo de programas é para mim vergonhoso.

Já nos basta o novo acordo ortográfico que retira a nossa identidade nacional e tão própria, desde quando é que o português de Portugal, o mais antigo, com tanta história deve ser modificado de forma a facilitarmos o entendimento entre outros países de língua portuguesa. Devemos desta forma acabar com todas as línguas e criar uma universal para que consigamos comunicar melhor uns com os outros? Na minha opinião não. Cada país, cada cultura com a sua identidade e só faz de nós pessoas mais instruídas e mais interessante procurarmos aprender outras línguas e como comunicar com outros povos. Nisso orgulho-me muito de ser portuguesa, pois se há coisa em que os portugueses têm facilidade é em comunicar, mesmo que seja à base do desembaraço.

3 comentários:

  1. Concordo totalmente, tanto no que respeita à tertúlia cor-de-rosa, como o acordo ortográfico da Língua Portuguesa.

    Mais do que a crise económica e financeira que estamos neste momento a atravessar, preocupa-me sobretudo a crise de valores da nossa geração. Há muito que se perdeu o hábito de discutir ideias da política contemporânea, opiniões literárias ect. A História, Política, Economia e o Direito, não são de todo preocupações da nossa geração. Esta preocupa-se sobretudo com o divertimento efémero, com a socialização virtual e sobretudo com o facilitismo. Aqui penso que o nosso Sistema de Ensino tem muita culpa no cartório. Fomos habituados (em geral), ao facilitismo desde a 1ª classe. Esta situação prolonga-se muitas vezes até ao Ensino Universitário. A Universidade não é mais um Ensino Elitista, há muito que deixou de ser. Com isto pergunto como serão os futuros gestores, juristas, advogados, jornalistas, escritores, entre outros, se viveram e vivem num mundo de abundância onde as 'conquistas' são conquistas com pouco esforço e em pouco tempo.

    “ (...) tal como aqueles que desenham as paisagens se colocam no plano mais baixo para observarem a natureza das montanhas e, para melhor observarem a natureza das planícies, vão para as montanhas, também, para se conhecer bem a natureza dos povos, tem de se ser príncipe, e, para se conhecer bem a natureza dos príncipes, tem de se pertencer ao povo."
    O Príncipe, Maquievel

    P.S: Acho que me desviei um pouco do tema do teu post.

    Beijo
    Isabel

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  2. Não desviaste nada, está tudo interligado, a educação e aquilo que a nossa geração e a geração mais nova permite e consome dita a sociedade de hoje e infelizmente tens razão.

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